Hoje de manhã estive num interessante café de trabalho com o Sr. Prof. Jorge Torgal, recém empossado Presidente do Conselho Directivo do Infarmed, com os associados da APEGSAUDE, no Palácio de Queluz.
Foram ouvidos vários profissionais e representantes da indústria farmacêutica e discutidos vários pontos, nomeadamente as transformações necessárias, em todo o ciclo de regulação, produção e comercialização do medicamento, para enfrentar o quadro restritivo em matéria de preços e disponibilidades financeiras.
A sustentabilidade dos sistemas de saúde é uma grande preocupação de todos os países que o implementaram, agora mais do que nunca! Claro que nos preocupa o nosso SNS, o seu financiamento, o preço dos medicamentos e o futuro da indústria farmacêutica. Chegámos a conclusões várias, mas nem todas felizes. A verdade é que, tal como em muitos outros sectores, muitas das companhias farmacêuticas não vão sobreviver. Os níveis de crescimento dificilmente se vão manter na próxima década, quanto mais no próximo ano, e esta é a realidade não só de Portugal, mas também da União Europeia e América. O crescimento não será contra ciclo na área do medicamento, isto para além dos medicamentos inovadores terem custos muito elevados e dificilmente serão suportados pelas companhias de seguros.
Medidas restritivas estão a ser discutidas e adoptadas em vários Países. Claro que os SNS, nacional e internacionais, têm sempre como base a equidade e igualdade no acesso aos medicamentos. Um dos caminhos possíveis para minimizar estes custos será a definição das necessidades primárias e dar resposta às mesmas. Com isto as terapêuticas de conforto, progressivamente deixarão de ser custeadas pelo Estado. Em suma, terá de haver claramente uma redefinição das necessidades dos utentes do SNS. Cada vez se consomem mais medicamentos. A taxa de decréscimo no ambulatório foi de 1,8, e de consumo nos hospitais foi de 4.5! E isto, claro, suportado por doentes não hospitalizados. Revela-se necessário adoptar medidas de racionalização de aquisição de medicamentos nos Hospitais.
Outra medida muito falada e com a qual concordo na íntegra é definir a primeira linha terapêutica. As Orientações terapêuticas serão propostas pelo Infarmed, depois de ouvida a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Farmacêuticos, isto é, os médicos vão ter de prescrever de acordo com as orientações terapêuticas para determinada patologia (que não são nenhuma inovação, são as seguidas em outros países). Será definida muito bem uma primeira linha terapêutica e a prescrição irá ocorrer de acordo com o definido.
Também o Estado, através da sua Central de compras terá de "negociar" a compra dos medicamentos. Terá de tentar comprar o mesmo medicamento em determinadas condições, a um mesmo distribuidor, por exemplo 30% mais barato se comprar tudo de uma só vez e propoe-se a pagar em x tempo, terá, deste modo, uma maior capacidade negocial.
Também o sistema de comparticipações terá de ser revisto! A título de exemplo, até há bem pouco tempo atrás, quem tivesse escrito na receita a Portaria relativa aos doentes esquizofrénicos e bipolares tinha os medicamentos comparticipados. O que aconteceu é que eramos todos esquizofrénicos e bipolares! Tal como a lógica dos reformados e do belo do médico de família, que prescrevia todos os medicamentos e mais algum sempre em nome do reformado quando era na verdade para o resto da família, ou seja, era a verdadeira acepção da palavra, médico de família!
Também a lógica relativa aos dispositivos médicos terá de ser repensada. A verdade é que o mercado dos dispositivos médicos ronda os 1000 milhões de euros e revela-se muito importante para a sustentabilidade do SNS. Existe mais do que uma empresa a vender o mesmo produto, o que poderia servir, numa primeira análise, para baixar o preço de venda, mas não acontece! O que acontece é que o médico diz que só trabalha com o dispositivo X!. Tem de ser elaborado um catálogo com estes produtos e com o preço indicativo de cada um deles para a sustentabilidade do SNS não ser feita apenas à base do medicamento!
O consumo dos medicamentos vai para além das necessidades objectivas do doente, têm, por isso, de ser adoptada medidas de racionalização da prescrição e utilização dos medicamentos afim de manter a inovação e sustentabilidade do nosso SNS.